27/04/2023 às 05h05min - Atualizada em 27/04/2023 às 12h30min
China faz 1ª movimentação para discutir acordo sobre guerra na Ucrânia; entenda por que isso é importante
Xi Jinping disse a Volodymyr Zelensky que um enviado chinês, um ex-embaixador chinês na Rússia, visitaria a Ucrânia e outros países para discutir um possível acordo político
Xi Jinping disse a Volodymyr Zelensky que um enviado chinês, um ex-embaixador chinês na Rússia, visitaria a Ucrânia e outros países para discutir um possível acordo político Fotomontagem com Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, e Xi Jinping, da China Reuters e AFP O presidente da China, Xi Jinping, disse na quarta-feira (26) que o governo dele vai enviar um dirigente à Ucrânia para discutir um possível “acordo político” para a guerra da Rússia. Até agora, o governo chinês tinha evitado se envolver no conflito (os chineses têm uma política de não intervenção). No entanto, nos últimos tempos o país tenta se firmar como uma força diplomática global. Recentemente, os chineses costuraram um acordo entre o Irã e a Arábia Saudita, dois países inimigos no Oriente Médio que restauraram relações diplomáticas depois de anos. O que Xi disse a Zelensky? EUA anunciam mais ajuda à Ucrânia; China se dispõe a mediar paz com Rússia Em um telefonema, Xi disse ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que um enviado chinês, um ex-embaixador chinês na Rússia, visitaria a Ucrânia e outros países para discutir um possível acordo político, de acordo com um comunicado do governo. O texto não menciona a Rússia ou a invasão da Ucrânia no ano passado e nem indica se o enviado chinês poderia visitar Moscou. LEIA TAMBÉM Xi Jinping e Zelensky falam pela primeira vez desde o início da guerra e ensaiam diálogo de paz Xi Jinping parecia mais relaxado do que Putin, dizem especialistas em linguagem corporal Xi Jinping se encontra com Putin na Rússia em meio a tensões com os EUA O telefonema de Xi e Zelensky foi antecipado depois que Pequim disse que queria servir como mediador na guerra. Por que isso é importante? A China é o único grande governo que mantém relações amistosas com o governo russo. Os chineses são os maiores compradores de petróleo e gás russo. O governo chinês trata o governo russo como um parceiro diplomático, especialmente porque os dois tentam se opor ao domínio dos EUA nos assuntos globais. Xi se recusou a criticar a invasão e usou seu status como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU para proteger diplomaticamente a Rússia. Antes desse telefonema, Zelensky já tinha dito que aceitaria uma mediação do conflito feita pela China. Por que a China fez isso? O governo de Xi tem buscado um papel maior na diplomacia global. O Partido Comunista Chinês considera que o país tem um status legítimo de líder político e econômico em uma ordem internacional. Isso é uma mudança da política internacional tradicional do país: por décadas, os chineses se concentraram no desenvolvimento econômico de seu próprio país. Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, disse aos ministros israelenses e palestinos que seu país está pronto para ajudar a facilitar as negociações de paz. A declaração desta quarta-feira alertou contra os perigos da guerra nuclear, sugerindo que o governo chinês também pode ter sido motivado pelo perigo de um conflito mais destrutivo. A mediação entre a Ucrânia e a Rússia aumentaria a presença da China na Europa Oriental. O governo chinês tenta construir laços com outros governos, e isso gerou reclamações de algumas autoridades europeias de que a China está tentando ganhar vantagem sobre a União Europeia. A professora de ciência política Kimberly Marten, do Barnard College da Universidade de Columbia, em Nova York, duvida que a China tenha sucesso em um papel de pacificador. “Tenho dificuldade em acreditar que a China pode atuar como pacificadora”, disse ela, acrescentando que Pequim tem estado “muito perto da Rússia”. Como é a relação da China com a Rússia? A China é o grande país mais aliado que o governo de Putin tem. Xi e Putin publicaram uma declaração conjunta antes da invasão de fevereiro da Ucrânia, em 2022, que dizia que seus governos tinham uma “amizade sem limites”. O governo chinês repetiu as justificativas russas para a invasão. Em março deste ano, Xi fez uma visita a Moscou, onde foi recebido por Putin. A China aumentou as compras de petróleo e gás russo, ajudando a compensar a perda de receita resultante das sanções ocidentais. Em troca, a China obtém preços mais baixos, embora os detalhes não tenham sido divulgados. Quais são as relações da china com a Ucrânia? A China era o maior parceiro comercial da Ucrânia antes da invasão. Em 2021, a Ucrânia anunciou planos para empresas chinesas construírem infraestrutura relacionada ao comércio. O governo de Zelensky foi mais ambíguo em relação ao governo chinês depois que ficou claro que Xi não tentaria impedir a guerra de Putin, mas os dois lados permaneceram amigáveis. Qin, o ministro das Relações Exteriores, prometeu neste mês que a China não forneceria armas a nenhum dos lados, uma promessa que beneficia a Ucrânia, que recebeu tanques, foguetes e outros armamentos dos governos dos Estados Unidos e da Europa.