25/03/2023 às 13h25min - Atualizada em 26/03/2023 às 00h03min

'Cala a boca ou quer outro tapa?': Conselho da Europa denuncia violência policial na França

Repressão policial aumentou desde que os protestos espontâneos e sem organizadores contra a reforma da Previdência se multiplicaram em todo o país.

G1
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/03/25/cala-a-boca-ou-quer-outro-tapa-conselho-da-europa-denuncia-violencia-policial-na-franca.ghtml


Repressão policial aumentou desde que os protestos espontâneos e sem organizadores contra a reforma da Previdência se multiplicaram em todo o país. Em Toulouse, no sul da França, policiais derrubam manifestante durante protesto contra a reforma da previdência.
Charly Triballeau
A gravação de uma abordagem policial em Paris durante um dos protestos contra a reforma da Previdência, na França, revela a violência adotada por membros das forças policiais nas últimas semanas.

No áudio, os policiais insultam os manifestantes, ameaçam “quebrar suas pernas” e dão tapas no rosto de um deles. O Conselho da Europa denuncia o uso excessivo de força pela polícia francesa durante os protestos.
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A gravação sonora tem cerca de 20 minutos e registra a ação de um grupo de policiais da Ronda Ostensiva (Brav-M, em francês) durante a abordagem de sete jovens em um protesto espontâneo no centro da capital francesa na última segunda-feira (20). 
Uma foto, tirada no mesmo momento, segundo o jornal Le Monde, mostra cerca de 15 policiais com seus uniformes de conflito do tipo 'Robocop' cercando o grupo de jovens sentados na calçada.
Em uma abordagem cheia de ameaças e insultos, os policiais vão ser mais violentos com um dos rapazes do grupo, que vai levar ao menos dois tapas. Ele é o único negro do grupo segundo os que ali estavam, aponta o jornal francês.
"Você tem uma cara de quem pede para apanhar", diz o policial e, logo na sequência, exige silêncio do jovem : "cala a boca".
Em outro trecho do áudio, um dos policiais diz que os jovens têm sorte de terem sido colocados sentados ali no momento da abordagem. "Se não, eu juro, eu teria quebrado suas pernas, literalmente... Já quebramos muitos cotovelos e muitas caras, mas eu também teria quebrado suas pernas", diz. 
No som, é possível ouvir o estalo de um tapa. "Tire este sorriso do rosto", grita um policial antes do barulho. Na sequência, é possível ouvir: "Cala a boca ou vai querer outro?" e o barulho de um novo tapa. 
Uma outra voz é ouvida, de acordo com o Le Monde, "você está começando a gaguejar! Talvez queira outro, para que eu coloque seu queixo no lugar".
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Além da violência física e das ameaças, um dos jovens abordados afirmou ter sido vítima de assédio sexual por um dos policiais. Em entrevista ao canal Franceinfo, o jovem de 23 anos disse que, no momento da revista, o policial "o agarrou pelo sexo". O agente ainda teria dito ao rapaz enquanto o apalpava: "você nem tem bolas".
Em outra manifestação em Paris, um jornalista sofreu traumatismo craniano e lesões na mão após ser alvo de um policial também da Rota Ostensiva, brigada conhecida no país por sua violência. Paul Boyer cobria a manifestação de quinta-feira e estava identificado como imprensa quando foi atacado por golpes de cassetete, como relatou ao jornal Libération.
As denúncias, publicadas neste sábado (25), se somam a, ao menos, outros 11 casos de violência policial em investigação pela Corregedoria (IGPN) na última semana, segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin.
Protestos cada vez mais violentos
Em Nantes, manifestante chuta bomba de gás lacrimogênio durante protesto contra a reforma da Previdência.
Loic Venance/AFP
A repressão policial tem sido mais forte desde que os protestos espontâneos e sem organizadores contra a reforma da Previdência se multiplicaram em todo o país.
Na última semana, as ruas da França têm sido diariamente palco de protestos contra a decisão de Emmanuel Macron de impor a alteração na aposentadoria sem aprovação parlamentar. Sem aprovação da polícia, as manifestações espontâneas, em geral com muitos jovens, percorrem as cidades sem um trajeto conhecido e, muitas vezes, terminam com latas de lixo e mobiliários urbanos queimados e vitrines pichadas ou quebradas. 
Na quarta-feira (22), durante uma entrevista à televisão, o presidente Macron endureceu o discurso e afirmou que a violência dos manifestantes não seria tolerada. 
No dia seguinte, 12 mil policiais foram convocados para controlar as manifestações que levaram mais de um milhão de franceses às ruas. Nas redes sociais, diversos vídeos mostravam policiais batendo com cassetete e lançando bombas contra manifestantes, por vezes, a esmo. No total, a polícia deteve 472 pessoas, em diferentes cidades, na quinta-feira (23).
A fúria da crise social no país provocou o cancelamento às pressas da visita do rei Charles III à França a pedido de Emmanuel Macron. O monarca britânico deveria chegar a Paris no domingo (26).
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Diante das cenas vistas pelo mundo todo e das denúncias de grupos de ativistas, a Comissária de Direitos Humanos do Conselho da Europa, Dunja Mijatovic, criticou na sexta-feira (24) a violência policial nos protestos franceses.
"Atos esporádicos de violência de alguns manifestantes ou atos repreensíveis durante uma manifestação não podem justificar o uso excessivo da força por agentes do Estado. Nem tais atos são suficientes para privar os manifestantes pacíficos do direito à liberdade de manifestação", afirmou Mijatovic.
Para a associação francesa Liga dos Direitos Humanos, as autoridades do país estão "minando o direito dos cidadãos de protestar, fazendo uso desproporcional e perigoso da força pública", reclamou Patrick Baudouin, presidente da LDH.
Em resposta, o ministro do Interior denuncia um aumento da violência por parte de grupos de black blocks infiltrados nos protestos. Darmanin afirmou que 441 policiais foram feridos nas manifestações da última quinta e minimizou os casos de violência policial.
"É possível que, individualmente, policiais e guardas, muitas vezes sob a influência do cansaço, cometam atos que não estão de acordo com o que lhes foi ensinado durante seu treinamento e cursos de ética", admitiu, em entrevista à televisão Cnews, mas salientando que os casos seriam excepcionais.
As cenas de violência do Estado podem ser um fator a mais para ampliar o sentimento de indignação da população contra o governo de Macron. O resultado deve ser visto nas ruas na próxima terça-feira (28), dia em que está marcada mais uma manifestação nacional.

do G1



Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/03/25/cala-a-boca-ou-quer-outro-tapa-conselho-da-europa-denuncia-violencia-policial-na-franca.ghtml


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